domingo, 31 de outubro de 2010

O Banquete dos Deuses

Bon après-midi, mes amis

Antes de mais nada, Feliz dia das Bruxas 8D Alguém tá afim de jogar Quadribol comigo e com a Lulita? xD
Enfim, o post de hj não tem absolutamente nada haver com o Halloween, só aconteceu que quis postar hj esse meu conto novo. Quer dizer, mais ou menos novo xD O fiz nas férias de meio de ano, como capítulo 1/prólogo de um livro que um dia escreverei. Estou postando a ele aqui no Castelinho pq pretendo fazer alguns outros contos nesse mesmo ambiente, por isso precisava desse cap aqui. Claro que fiz algumas mudanças, pq não pretendo por a mesma história aqui, mas 99% tá igualzinho ao original.
Anyways, vamos ao banquete.




O Banquete dos Deuses (Cosmogonia e um pouco de Mitologia)

O que havia no princípio?

O Nada?

O Verbo?

O Caos?

Nenhum humano saberia responder.

Mesmo o mais sábio deles não poderia responder tal coisa cuja resposta única e exclusiva estava nas mãos de seres que jamais responderiam a todos os devaneios humanos sobre a criação.

Os Deuses.

Bem sabiam os habitantes de Loegria que havia coisas que seus Deuses jamais diriam, pelos mais diversos motivos.

Nesse caso, não diziam o que havia antes de tudo porque os humanos jamais compreenderiam. Quando questionados, os Deuses apenas diziam que “não se cria o tudo do nada, e nem o substantivo do verbo e muito menos a ordem caótica mundana do caos completo”. Eles apenas sorriam divertidos e mudavam de assunto. Eram mestres em fazer isso.

Porém, eles jamais iludiram os homens: eles não foram as primeiras coisas a serem criadas. Loegria era o quarto ou quinto mundo que os criadores haviam feito.

Primeiramente, deve-se dizer que os treze Deuses e Deusas (6 homens, 6 mulheres, e um que... bem, chegaremos lá) não dividiram os domínios naturais entre si. Cada Deus ou Deusa tinha a mesma quantidade de poder, a mesma força e por isso um não precisava se submeter ao ou outro, nem o outro ao um. Não dividiram a natureza porque tudo era de todos. Se um deles quisesse criar um rio e depois uma montanha, depois uma nuvem, não havia nada de mal e ninguém o impediria. Às vezes eles discutiam por isso, quando a obra “naturartística” de alguém interferia na do outro. Mas por fim, mesmo se esses dois resolvessem a disputa no braço, acabavam por completar a obra juntos, rindo como amigos ou como irmãos ou como um casal (dependia de quem eram os Deuses envolvidos).

Os treze não eram nada um do outro e ao mesmo tempo eram tudo um do outro. Podiam decidir o que queriam ser. Como crianças que brincam de casinha, hora eram pais e filhos, em outra eram irmãos de nascimento, já em outra eram inimigos jurados de sangue, e por fim podiam ser amantes ou marido e mulher. As relações entre eles mudavam conforme a vontade deles, uma vez que eles eram tudo e nada ao mesmo tempo.

Não se sabe o que havia antes do mundo, da nossa Loegria. Nem exatamente, nos mínimos detalhes, como foram os outros quatro ou cinco mundos que vieram antes, mas o pouco que se sabe, contarei agora caso tenha a paciência e o interesse de ouvir.

Seja o que for que houvesse antes, os Deuses resolveram mudar aquilo. Não se sabe de onde eles vieram e o porque são o que são, mas o fato era que os treze se reuniram em torno da coisa que havia antes do tudo.

A coisa não tinha nada de mais, pensaram, mas viram naquilo uma matéria prima para sua obra de arte.

Sentaram-se ao redor da coisa e debateram.

Não se tem a menor idéia de por quanto tempo debateram. Alguns dizem que foi uma tarde apenas, quando debateram bebendo vinho de estrelas e comendo bolinhos de infinito, e que a primeira Loegria nasceu de noite. Outros dizem que o debate levou sete dias, que eles não precisavam se alimentar e que a primeira Loegria nascera com o primeiro nascer do sol. Ainda há aqueles que dizem ter levado mais de mil anos, que eles degustavam sonhos líquidos uns dos outros em busca de novas idéias e que o mundo nasceu ao meio dia.

Jamais se saberá o que se passou durante esse primeiro debate. Entretanto, a primeira Loegria fora criada.

Era um disco, com um mar que vivia caindo no infinito e um único pedaço de terra bem no centro, um grande continente que as lendas dizem se chamar Pan.

Em Pan, os Deuses pegaram seus pincéis e palhetas, instrumentos e partituras, martelos e cinzéis, papel e caneta e trabalharam com carinho em uma paisagem belíssima de várias maneiras. Alguns gostavam de penhascos, rochedos e desertos; já outros preferiam as cachoeiras, flores e florestas. Porém, entenda que ainda não havia vida nesse belo lugar. As plantas, que deveriam ser as únicas coisas vivas lá, não eram vivos: tudo era feito de pedras preciosas, ouro, prata e bronze.

Unindo-se, os Deuses criaram um Paraíso, porém um paraíso imperfeito, frio e estático.

Eles não ficaram satisfeitos.

Sentaram-se em uma clareira, que ficava exatamente no centro do mundo que eles haviam feito, e debateram de novo o que fazer com aquelas maravilhas.

Sim, todos queriam desfrutar: tomar banho no mar, deitar sobre as árvores, aproveitar os dias e as noites...

Mas faltava algo.

Foi naquela clareira que os treze, unanimemente, decidiram criar a Vida.

Eles sabem exatamente o que é a vida. Mas isso, segundo os próprios Deuses, é assunto para os Deuses apenas, e que os humanos perdem tempo demais pensando nisso.



Entenda por caos divino algo além da compreensão humana. É o conjunto de todos os pequenos detalhes da natureza, somado com as coincidências dos homens, tudo isso multiplicado pelos sentimentos do mundo e dividido pela essência da própria vida. Dizem os Deuses novamente se tratar de uma bela obra de arte, o caos divino, e que a vida não teria sentido sem ele e ele não teria razão sem a vida. Dizem ser como uma balança, onde para haver vida era preciso haver o caos, e para haver o caos era preciso a vida.

Cantavam em separado uma canção juntos. Os versos se complementavam, mas destoavam ao mesmo tempo. A vida se espalhou para todo o continente e todo o oceano de treze maneiras diferentes, que se cruzavam, se afastavam e se tocavam de milhões de formas diferentes. A música terminou o trabalho: fez as plantas mortas virarem plantas vivas, criou os ventos, os aromas, as ondas, o calor, os sabores e várias outras coisas interessantes da vida.

Terminou a música, mas uma agonia espiritual tomou conta dos Deuses.

Ainda faltava algo.

Sentaram-se de novo em círculo, porém dessa vez em silêncio total. Todos pensando no que estaria faltando no paraíso deles.

Foi uma das Deusas quem conseguiu acertar o que faltava.

Cansada de ficar sentada, ela se levantou um pouco e caminhou até uma flor azul que crescia ali perto.

Ela sorriu para si mesma. Parecia que a flor estava desesperada para participar da reunião. O vento soprava vindo do leste e empurrava a delicada florzinha na direção do círculo divino. As pétalas e folhas se moviam como se fossem membros de uma pessoa acorrentada que se arrasta em certa direção.

Ainda sorrindo, a Deusa delicadamente pôs suas mãos sobre a flor e disse-lhe:

- Voe comigo até o círculo, amiga

Quando tirou os dedos de cima da flor, ela já não era mais flor, havia se transformado em uma borboleta azul que, alegremente, voou junto a Deusa de volta para o círculo dos Deuses.

Assim que viram o ser recém criado, todos os treze concordaram que era aquilo que faltava: Animais. Seres que se moviam.

Imediatamente puseram-se todos de pé e saíram correndo por toda primeira Loegria. Num primeiro momento, faziam como a Deusa: transformavam plantas em bichos. Mas rapidamente passaram a criar animais inventados.

Correram por aí um dia inteiro, criando vários animais diferentes. Reuniram-se ao entardecer, todos rindo, na mesma clareira de antes, satisfeitos.

Alguns escolheram dormir, não por precisar, mas por gostar; outros apenas vagaram por aí saboreando a criação para admirar a obra.

Uma outra Deusa que não a da borboleta, foi caminhar em um deserto e viu uma ancestral da cobra. Não era uma cobra como estamos acostumados, era um protótipo criado naquele dia de alegria divina e que não fazia mal a ninguém.

Aliás, todos os animais daquele dia de felicidade cósmica não faziam mal a nada. Eram imortais tais quais os Deuses, sendo que só morreriam se os próprios Deuses os matassem e que não precisavam se alimentar.

A Deusa, porém, não gostou disso. Olhou fundo nos olhos fendidos da quase-cobra e, com um prazer cruel, disse:

- Quero que você tenha dentes pontudos, afiados e com veneno. Quero que se alimente dos outros.

A quase-cobra estremeceu, mas foi obediente.

E assim nasceu o primeiro carnívoro.

Não satisfeita, a Deusa da cobra fez vários carnívoros e animais peçonhentos. Com a chegada do dia, ela correu até a clareira. Não contou de primeira seu feito, esperou até que os outros desse por falta de alguns animais para dizer.

Alguns aplaudiram, outros ficaram horrorizados.

Houve briga. Briga feia.

Um não podia ser superior e criar algo tão importante, como carnívoros assim do nada. Era direito da Deusa da cobra criar coisas, sim. Mas ao criar os carnívoros, ela criara algo maior e que nem todos os Deuses haviam concordado.

Ela criou a Morte.

O Paraíso que eles haviam criado era para ser eterno, com os seres jamais morrendo, mas também jamais se reproduzindo. Essa estaticidade ainda incomodava aos treze, mas eles ainda eram jovens e iniciantes no trabalho de Deuses, por isso ainda não haviam percebido que vida só tem sentido com a morte.

Naquela hora, nem todos viram aquilo e houve a primeira guerra.

Seis contra seis.

Uma luta justa.

A primeira Guerra Justa Divina.

Porém terrível para a primeira Loegria. A Deusa que criou a primeira borboleta ficou de fora, protegendo sua flor alada.

Nunca queira ver uma guerra de Deuses. Não é algo bonito de se ver, além de ser isso o próprio Armageddon, Apocalipse, Fim do mundo, Ragnarök, ou como você quiser chamar a destruição total de tudo. Se vir todos os Deuses brigando ao mesmo tempo, saiba ser a última coisa que verá.

Por fim, pararam de lutar exaustos.

A Deusa da borboleta, chorando, disse-lhes:

- Vejam o que fizeram...

E todos olharam para a primeira Loegria.

Estava destruída.

Envergonhados, trataram dos ferimentos uns dos outros, pediram desculpas sinceras e sentaram-se de novo diante da coisa que há antes de haver universo para um novo debate.

Fariam aquilo de novo? Sim com certeza. A vida também? Claro. E a morte? Também concordaram todos que sem morte não há vida.

E recriaram toda a arte de novo, dessa vez, porém, com um pouco mais de razão que da primeira vez. Pensaram em proporções entre a vida e a morte. Pensaram em cadeias alimentares complexas. Criaram a reprodução. Criaram também uma porção de outras coisinhas que fazem girar as engrenagens do mundo.

Falando nisso, decidiram que o mundo teria um formato de ovo.

Terminada a segunda Loegria, eles sorriram e sentaram-se em uma praia, saboreando o mundo novo.

Tudo era para ter ficado assim quieto, com os Deuses em paz e o mundo oval.

Porém, ocorreu que certo dia um Deles ficou inquieto.

Faltava algo naquele paraíso.

Sim, era um mundo perfeito. Tudo havia de perfeito. E, no entanto, aquilo aborrecia o tal Deus de uma forma que ele não conseguia entender. Era uma sensação de vazio terrível. Via o mundo, e o que mais?

Caminhava por um deserto de areias negras quando avistou um oásis. Foi até ele e lavou o rosto em um pequeno lago que ali havia.
Foi então que viu seu reflexo.

É óbvio que ele já vira seu reflexo outras tantas vezes em lagos ainda melhores. Porém, as areias negras lhe deram uma idéia de presente.

Juntou um pouco daquela areia negra, pegou muita água, fiapos de luar, gotas de mel, nuvens de sonhos e a própria idéia de sua cabeça e misturou bem, dando à massa disforme uma forma parecida com o Deus. Por fim, pegou um raio de sol e vida e acrescentou a criatura.

Aquele era o primeiro homem.

Seus traços ficaram meio exagerados devido a inabilidade do Deus, que estava mais acostumado a lidar com pedras, não com moldes delicados. A criação tinha a pele negra como a areia do deserto que o inspirara, cabelos crespos, lábios grossos, nariz grande e achatado, dentes brancos, músculos desenvolvidos e olhos no tom do mel.

O homem olhou para o Deus, olhou para suas mãos e, estupefato por estar vivo, perguntou para seu criador.

- O que sou eu? De onde eu vim? Por que estou aqui? Para onde vou?

Mal sabia ele serem aquelas perguntas que os Deuses jamais iriam responder.

Brevemente e sinceramente, o Deus explicou o que ele era (uma divindade) e deu ao homem a opção de viver e, caso ele concordasse, passar sua existência mortal toda tentando descobrir o propósito de sua existência humana, ou seja, passar a vida toda tentando descobrir o porque do Deus o ter criado, ou voltar a ser o que era antes: uma idéia que ele tivera ao caminhar pelo deserto.
Por mais estranho que possa parecer, o Deus gostava de sua criação. Não quis explicar nada do funcionamento do mundo para o homem pois se não ele seria apenas mais um pedaço sem razão do paraíso. O fato do homem ter de descobrir, ter de usar a razão, o pensamento para tanto deliciou o Deus.
Era aquele ser que faltava.

Alguém além dos Deuses que pensava!

Alguém além dos Deuses que falava!

Alguém além dos Deuses que sentia!

A idéia de dividir um pouco da razão e emoção com sua criação fascinou a divindade.

Horrorizado com a idéia de deixar de existir (e, portanto, morrer) o homem implorou ao Deus pela primeira opção.

O criador sorriu paternalmente para sua criação e lhe disse que não precisava implorar. Ele estava fascinado por sua criação.

Constatou ter criado algo maior que um mero homem. Havia criado o primeiro espírito, a primeira Alma do universo.

O Deus lhe deu então um nome, que selou de uma vez por todas a criação da alma: Kwashi, o primogênito.

O homem, após ouvir tudo, humildemente se ajoelhou diante do Deus e rezou a primeira oração do universo.

Ele foi preparado com o que o criador pode lhe preparar (não havia ainda a cultura humana formada, por isso o máximo que o criador pode fazer foi lhe ensinar boas maneiras divinas e a se vestir) e então levado a presença de todos os Deuses para uma apresentação formal.
Eles encararam o ser almado com total surpresa. Estavam prontos para brigar com o criador do homem, quando Kwashi prestou a mesma homenagem que prestou ao criador a todos os outros.

Todos os Deuses, sem exceção, ficaram lisonjeados e encantados com o homem pelos mesmos motivos de seu criador. Perceberam algo que faltava em sua criação, além da razão admirada pelo Deus do homem, e que eles não haviam notado: algo que admirasse o mundo deles assim como eles admiravam e para glorificá-los, algo que glorificasse diretamente a eles a vida.

Kwashi terminou suas orações dizendo o que ele sabia que era, uma idéia do Deus do homem sobre aquela lacuna da criação, e contando o que pretendia ser, alguém que entenderia por conta própria as engrenagens que giravam o mundo com a ajuda dos Deuses e com seu pensamento e experiências.

Encantada com o homem, uma outra Deusa, em um súbito ataque de criatividade, correu até uma praia. Juntou um punhado de areia da praia, muita água, brilho de estrelas, flocos de céu, a mais bela rosa, sumo de várias frutas, sua própria idéia e misturou bem, moldando inspirada nas delicadas formas das Deusas. Acrescentou por fim o raio de sol e a vida, criando o segundo ser humano.
Criou a mulher.

Saiu com as formas bem menos exageradas que Kwashi, com formas suaves, pele clara, olhos azuis, cabelos ruivos, lábios volumosos, nariz arrebitado e cheia de sardas.

Estupefata, ela fez as mesmas perguntas de Kwashi. A Deusa lhe sorriu e lhe explicou tudo que era interessante responder a um humano (talvez tenha sido um pouco mais generosa que o primeiro Deus, mas isso nunca saberemos com certeza), assim como fizera o Deus criador do homem.

Porém, a Deusa da mulher acrescentou algo a mais.

Caminhou com a primeira mulher até onde havia um bando de feras selvagens.

Ensinou a arte da luta.

Depois a levou até o local onde nasciam os ventos e lá a ensinou a cantar de dançar.

Por fim, a levou até onde nascem as flores e os sonhos e a ensinou a amar e a sorrir.

A Deusa sorriu consigo mesma.

Não estava competindo com o Deus do homem. Era apenas que uma criação tão incrível não deveria se limitar a falar, pensar, sentir e se comportar. Ela própria ensinaria para Kwashi as mesmas coisas assim que possível.

Por fim deu um nome a primeira mulher. A chamou Lorie, a maravilhosa.

Apresentou Lorie para os deuses e ela os louvou. Apresentou-a para Kwashi e um se apaixonou pelo outro.

Alguns dias de defasagem havia entre o nascimento de Kwashi e o nascimento e apresentação de Lorie, por isso, por conta própria, Kwashi havia aprendido algumas coisas também. Observara as plantas e por isso aprendera a plantar. Olhara para as árvores e para o ferro e com isso aprendeu a construir. Olhara as estrelas e conversara muito com o Deus do homem, e por isso aprendera a razão e a franzir muito a testa.

O homem e a mulher se amaram por que um era o que o outro precisava. De que valiam os sentimentos de Lorie sem a razão de Kwashi e o que seria da razão sem a emoção?

Casaram-se com a bênção de todos os Deuses.

Os Treze ficaram animadíssimos com a novidade. O Deus criador do homem e a Deusa criadora da mulher criaram outros com as areias do deserto negro e da areia da praia. Quanto aos outros Deuses, estes passaram a criar homens e mulheres também, e logo cinco tipos de homem havia: negros da cor do deserto escuro, brancos como as areias das praias, vermelhos como o barro das montanhas, roxos como a terra oriunda dos vulcões e amarelos como os desertos comuns. Viviam espalhados por toda segunda Loegria, em aldeias, vilas e cidades onde reinava a total miscigenação.

Quando se cansaram de criar homens, os Deuses lhes deram um presente: permitiram aos humanos criarem a si mesmos através de seus filhos.

O primeiro casal a ter uma criança foi justamente Kwashi e Lorie.

Nasceu a primeira criança, uma menina, a quem eles batizaram Nina, e todos acharam graça ao descobrir que agora todo homem que nascia tinha uma cicatriz curiosa na barriga.

Aquele foi o primeiro umbigo do mundo.

Além dos filhos, os homens também criaram algo que até os Deuses invejaram e amaram. Criaram a cultura.

Animadíssimo com a cultura, um Deus resolveu contribuir, e deu aos homens o fogo. Ficou feliz ao ver sua criação ser usada tanto como arma como para criar mais cultura. Viu criarem utensílios domésticos, armas de caça e comida. Sorriu e pensou, um pouco arrogante, ser sua criação muito inteligente.

Outro Deus, vendo a dificuldade que era a caça, ensinou os homens a manterem animais perto de si e a cuidar deles para que lhes conferissem alimento, peles, leite e ovos. Ensinou-os a domesticar e ficou feliz em ver que ajudou-os.

Uma Deusa, vendo a dificuldade dos homens em conversar na linguagem divina, ensinou-os línguas humanas, mais simples, e que poupava suas gargantas. Ensinou-os também a escrever e ler, ficando satisfeita ao ouvir recitar o primeiro poema humano a uma Deusa, ela no caso.

Vendo que durante o sono nada pensavam os homens, um terceiro Deus deu a eles os sonhos, para que aproveitassem a criação tanto acordados quanto quando dormiam.

Os homens adoravam os sonhos, mas não sabiam o que fazer com eles. Outro Deus, muito astuto, deu-lhes uma certa dose de criatividade e ajudou-os a criar a arte não escrita, ficando orgulhoso ao ver os templos enfeitados.

Houve um problema quando os homens começaram a morrer e suas almas quase foram destruídas. Uma Deusa recolheu as almas e junto aos outros criou um mundo paralelo, onde as almas podiam repousar. Ela ficou como responsável por cuidar desse mundo de repouso e de equilibrar a delicada balança entre a vida e a morte dos homens.

Para ajudar a Deusa do Além em sua função, uma outra Deusa criou formas de extensão dos poderes divinos que tanto serviam para dar recados na terra quanto para manter certa ordem no mundo das almas. Criou os anjos, seres que pareciam com os homens, mas não tinham o raio de sol que lhes dava razão e sentimentos. Eram seres ocos, que apenas cumpriam a vontade divina.

Tudo parecia em paz.

Porém, na hora de receber as honras humanas, o Deus do homem se sentiu no direito de receber mais honras e de ser coroado Deus dos Deuses.

A Deusa da mulher foi a primeira a protestar, dizendo que não haveria humanidade sem ela. Os outros Deuses também protestaram, pois cada um quis ser o rei ou a rainha.

Novamente houve briga.

Todos contra todos.

Caótico, porém justo.

A segunda Guerra Justa Divina.

Dessa vez, entretanto, os Deuses começaram a Luta pelos homens.

Cada Deus juntou os humanos que mais lhes eram fieis e os fizeram lutar uns contra os outros. Mas vendo que a briga dos homens não resolvia a disputa, os próprios Deuses passaram a se atacar, destruindo a segunda Loegria no processo.

Apenas um Deus ficou fora da briga, por ter se apaixonado por uma mortal, a própria Nina, que agora já era moça, quase adulta. Horrorizado com a destruição do mundo, o Deus gritava para os outros pararem.

Quando por fim os outros lhe deram ouvidos, já era tarde demais.

A segunda Loegria estava destruída.

Novamente os Deuses se trataram e pediram desculpas e criaram o mundo todo de novo.

A terceira Loegria foi feita a imagem de um cubo, e nela foi colocada a única humana sobrevivente que foi justamente Nina.

Tudo refizeram os treze Deuses.

A terra, a água, a luz, as trevas, plantas, animais e homens.

E novamente houve uma Guerra Justa Divina de todos contra todos.

Todos queriam ser o rei ou rainha dos Deuses, aquele ou aquela que iria reinar absoluto e que seria glorificado em dobro pelos humanos.

E novamente, o Deus de Nina ficou de fora, protegendo os descendentes dela.

Dizem algumas lendas que depois disso ainda houve uma quarta Loegria, que teria forma de um cilindro. Os Deuses nem confirmam nem contradizem isso, por isso jamais se saberá se são apenas lendas ou uma verdade. Mas caso tenha existido essa Loegria cilíndrica, ela foi destruída em mais uma Guerra Justa Divina.

Ao final, os treze olharam mais uma vez para a massa disforme que sobrou do mundo e se arrependeram de o terem destruído.

Sentaram-se todos ao redor da massa e debateram novamente o que fazer.

Todos concordaram que não havia como um deles ser o senhor ou senhora de todos os outros, por isso decidiram que era melhor criarem uma democracia entre eles.

Apenas um Deus não concordou com isso e quis, naquele momento mesmo, subjugar os outros e se tornar Senhor dos Deuses.

Entretanto, ele era minoria, e sua atitude dominadora e egoísta enfureceu a todos os outros doze, que o atacaram juntos.

Houve briga.

Doze contra um.

Uma luta claramente covarde.

Foi a Batalha da Injustiça.

Os doze venceram, e como castigo, humilharam o Deus a uma posição inferior a eles. Não era possível evitar que ele fosse um Deus, mas com a força de todos juntos, limitaram muito sua capacidade de intervir na natureza e o fizeram virar algo que não era nem feminino nem masculino.

O 13º Deus era agora um Hermafrodita.

Foi sentenciado também a ficar a margem de toda criação e a não receber louvores dos homens que ele criariam.

Feito isso, os doze se sentaram de novo ao redor da coisa e debateram na primeira assembléia divina o que seria do mundo. Debateram, votaram, e por fim criaram a quarta (ou quinta) Loegria, a atual.

Tinha uma forma que lembrava a eles que todos eram iguais como Deuses: Loegria era agora uma esfera, e como tal, partindo de seu centro, todo e qualquer segmento de reta era igual.

Nessa assembléia criaram também um conceito novo, o tempo. Agora os homens e criaturas que habitariam o mundo envelheceriam, e haveriam anos para se passar. Agora não seria o mundo mais uma eterna primavera, havendo estações do ano que eram diferentes dependendo do ponto da terra (é que nisso eles jamais conseguiram entrar em consenso, por isso, para evitar brigarem por bobagens climáticas, misturaram um pouco de todos os climas sugeridos). O tempo, como foi uma decisão em conjunto, seria comandado em conjunto também, não cabendo a Deus nenhum parar, voltar ou avançar o tempo sem que os outros onze aprovassem.

Criaram tudo como se conhece hoje e tudo era para ficar em paz.

Se não fosse o Deus Hermafrodita.

Com raiva da criação, jogou no homem uma praga.

Até então, os homens eram submissos aos Deuses, bondosos uns com os outros e não sentiam dor alguma, apenas as sensações boas. A praga do Hermafrodita deu a Maldade, a Sede de Poder e o Dinheiro aos humanos, e com isso criou a doença, a dor, o medo, a tristeza, a raiva, a cobiça, a inveja e tudo que há de ruim no espírito humano.

Horrorizados, mas sem poder desfazer, os outros Deuses escolheram deixar Loegria definhar e quando tudo morresse criariam algo novo no lugar. Porque por mais que tivessem destruído o mundo inúmeras vezes por acidente, destruí-lo por vontade própria era algo que eles consideravam repulsivo.

Por anos todos os seres vivos sofreram secas, tempestades muito fortes, dilúvios, pragas, vulcões, terremotos e maremotos.

Tudo parecia perdido para Loegria, quando um menino, Maro, de olhos puxados e cabelos negros e longos e pele amarelada, subiu até o topo da mais alta e fria montanha e implorou a todos os Deuses que poupassem a vida de sua família levando a dele em troca.

Tocados pelo gesto de sacrifício total e olhando dentro do coração do garoto e vendo apenas pureza e amor, os doze decidiram que talvez o Mal não fosse tão mal assim. Pois foi só por causa de e apesar de todos os problemas que o Mal causara ao mundo, que o amor e a bondade puderam se destacar de verdade. Maro era apenas um exemplo. Com toda a certeza haveria mais.

Os Deuses atenderam ao pedido do garoto e mais: voltaram seus olhos novamente para Loegria e a terra voltou a ser um local agradável de se viver.

Maro se tornou o primeiro herói do mundo.

Nessa altura, os doze se sentaram em uma nova assembléia para decidir o que cada um seria da humanidade, uma vez que nenhum deles estava disposto a dividir os humanos igualmente.

Essa assembléia foi feita em uma montanha que ficava no centro do diâmetro de Loegria e de onde até hoje começam os Marcos e o Lads (algo semelhante com longitudes e latitudes caso assim prefira). Foi tudo preparado para um debate que levaria horas ou até mesmo dias e anos, por isso foi posta uma mesa com todas as comidas mais saborosas que existem e as que não existem para que os Deuses se degustassem durante a assembléia.

Esse foi o chamado Banquete dos Deuses.

Por horas discutiram quem seria o que dos homens. Houve brigas e até mesmo trocas de ofensas, mas por fim, decidiram o que cada um seria da humanidade e terminaram a refeição como amigos.

A Deusa que criara a primeira borboleta seria a Deusa da vontade, da criatividade e persistência, mais comumente chamada de Deusa da Inspiração.

A Deusa que criara sem querer a morte gostou do que criou e gostou também da dor que o mal trouxera, por isso ficou encarregada da dor, pragas, doenças e do envelhecimento, sendo conhecida como a Deusa da Dor.

O Deus que criou o homem era o que mais gostava da razão humana, por isso ficou com o peso de ser senhor da razão, sabedoria e pensar humano como Deus da Sabedoria.

A Deusa da mulher escolheu para si defender a honra e dignidade dos homens, que deveria ser inerente a todos, pois se todos fossem honrados, todos seriam um pouco mais iguais. Tornou-se a Deusa da Honra.

O Deus do fogo se deliciou com a audácia e heroísmo de alguns homens, por isso escolheu para si o título de Deus da Coragem e passou a ser patrono-mor de heróis.

O Deus do pastoreio se assustou com a idéia da doença, por isso quis defender o exato oposto, tornando-se o Deus da Saúde e, como primeiro ato, ainda no banquete, deu aos humanos resistência contra doenças e a capacidade de adquirir imunidade para certas doenças.

A Deusa da fala e da escrita gostou de ver o quão empenhados eram os humanos em seus ofícios, por isso passou a louvar o trabalho e tudo que dele viesse, se tornando a Deusa do Trabalho.

O Deus dos sonhos, por sua vez, odiava o trabalho. Preferia muito mais a sombra e a água fresca. Por isso escolheu ser senhor da diversão, das festas e do lazer, como Deus do Prazer.

O Deus da arte olhou os homens, depois olhou o caos que eles eram (uma mistura de sentimentos e razão! Ora, que coisa bizarra são os homens!), e então sorriu. Havia muito do caos nos humanos, por isso escolheu ser senhor desse caos, alguém que equilibraria o máximo que desse tal caos, sendo então denominado o Deus da Loucura.

A Deusa do Além viu a confusão que estava se armando devido a pouca sensatez dos próprios Deuses ao escolher seus domínios. Por isso ela escolheu balancear o mundo, a vida e a morte, sendo então a Deusa do Equilíbrio.

A Deusa dos Anjos também olhou para os homens e para o caos e decidiu comandar o caos de fora dos homens, o acaso, as conincidências, as pequenas coisinhas que juntas podiam ajudar o atrapalhar qualquer um. A Deusa ora podia ser muito gentil e dando fortuna, ora pode ser muito cruel e dando miséria. Essa é a Deusa da Sorte.

Por fim, o Deus de Nina escolheu proteger todo o amor que havia no mundo, quer fosse ele entre enamorados, entre pais e filhos, entre companheiros, entre amigos ou entre governantes e seu povo. Seria senhor de tudo, sendo então o Deus do Amor.

Ainda no Banquete, os Deuses dividiram o Além, pois não era justo para os bons repousarem próximos aos maus. Foi dividido em onze camadas, sendo o primeiro uma espécie de inferno, o quinto um tipo de purgatório, e o décimo primeiro algo como um paraíso. Decidiram também que as almas podiam decidir reencarnar ou não, caso não gostassem de onde haviam ficado e que poderia haver visitas entre os patamares, sendo que os de baixo tinham apenas permissão de ficar um tempo determinado por dia em um dos mais altos, que variava conforme o nível onde a alma estava e para onde ela queria ir, e os de cima tinha a opção de ficarem o tempo que quiserem nos de baixo.

Criaram também a Magia e a entregaram para os homens, para que talvez aquilo lhes ajudasse a ser feliz.

Por fim, disseram seus primeiros nomes aos homens, sendo esse fato o fim declarado do Banquete.

É o primeiro nome não por ser mesmo o nome dos Deuses. Os homens não conseguiam pronunciar o nome de nenhum deles. Por isso cada um escolheu para si um nome humano, sendo que de tempos em tempos, quando dá vontade, eles trocam de nome.

Após isso, Loegria parou de sofrer por conta dos Deuses e passou a tentar não sofrer por causa do mal.

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Bem vindos a Loegria, mes amis \O/
Com esse conto eu abro esse mundinho meu para quem quiser ler.
Bom, Loegria é um mundo onde geralmente se passam minhas histórias do estilo de "O Senhor dos Anéis": cavaleiros, dragões, seres mágicos, deuses, etc. Mais especificamente uma família de heróis que provavelmente devem aparecer por aqui em breve (to me coçando já faz tempo pra contar a história de um deles). Por isso todos os meus posts sobre Loegria virão com o tag especial "Loegria" que é pra ninguém se perder se eu for fazer algo mais longo.
Enfim acho que é isso.

Au revoir

Um comentário:

  1. (Batalha de Deuses também dentro de mim, sem palavras perdidas nem achadas)

    Mas aqui não há heróis
    Só bandidos esfarelados como a maquiagem que uso

    Beijos, moça!

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