sábado, 7 de agosto de 2010

O menino que tentou comer uma estrela

 Oi, exemplares de seres vivos pertencentes a espécie humana, como vão vocês? E esse dia dos pais que tá batendo na porta, hein?  Na verdade, eu entro no grupo das pessoas que acham que essa data é puramente comercial e sem sentido, mas meu pai não, ele adora, e esse ano eu esqueci de comprar um presente D:
Daí, eu resolvi improvisar: Lembrei que, a uns sei lá, dois ou três anos atrás, meu pai tinha comentado comigo no carro que uma vez quando era mais jovem tinha tido a idéia de fazer um conto infantil sobre um menino que colocava estrelas em um copo e bebia como se fosse leite, ou coisa do tipo. Aí eu decidi espremer meu cérebro até tirar um enredo aceitável dessa simples idéia e fazer um conto. E fiz. Mas acho que não quero mostrar isso pro papai, ele vai perguntar se eu sou viado (tá que eu sou menina e tenho o direito de agir como um viado, mas enfim...). Então, já que eu vou passar o dia dos pais na cara limpa, achei melhor compensar e publicar esse pequeno conto no blog, só pra não passar o fim de semana de cara limpa por aqui também! =)



O menino que tentou comer uma estrela

    Existia um menininho que morava numa cidade bem pequena e afastada de tudo, onde não tinha nada. Lá, quando era dia, as pessoas trabalhavam sem descanso, e de noite, todas sentavam na porta de suas casas para conversar e ver a Lua.

    Mas o menino gostava mesmo era de olhar para as estrelas. Ele pegava a sua canequinha (como não tinha brinquedos, a caneca era seu objeto favorito, e o menino andava com ela para todo canto) e ia sozinho para o quintal de casa, onde era bem escurinho e dava para vê-las melhor. As estrelas eram lindas, sempre muito brilhantes, e piscavam graciosamente no céu. Se ele olhasse com bastante atenção, podia ver que elas se moviam, brincando ao redor da Lua. Fazendo silêncio, ele conseguia ouvi-las rindo e conversando na língua que só as estrelas falavam. O menino era muito curioso, e gostaria muito de saber do que elas riam, quais eram as suas brincadeiras favoritas.
Houve uma noite em que o menino pensou em uma pergunta diferente: Como seriam as estrelas, vistas de pertinho? Será que elas eram macias, quentinhas? Podia ser que elas fossem pedras, duras e geladas, mas que brilhavam e moravam no céu. Então, o menino descobriu que tinha muita vontade de pegar uma estrela. E assim ele o fez.

    Numa noite, o menino pegou um banquinho e levou para o quintal. Ele ficou em pé no banquinho para subir no telhado. Quando conseguiu chegar lá em cima, no lugar mais alto em que ele já estivera, o menino ficou na pontinha dos pés e esticou o braço na direção do céu. Seus dedinhos roçaram na luz que uma delas emitia, mas isso foi tudo que ele conseguiu. O brilho das estrelas era quentinho, mas o menino queria descobrir mais. De novo, ele se colocou na ponta dos pés, e estendeu não a mão, mas a sua canequinha para pegar uma estrelinha. E conseguiu! Cheio de felicidade, o menino sentou-se ali mesmo e virou lentamente a caneca, deixando que o seu conteúdo escorregasse até chegar à sua mãozinha.

    A estrela era pequenininha, nem dura nem muito mole, e também era morninha. Ela se movia de um lado para o outro, mas sem querer sair da palma de sua mão. Era tão lindinha! O menino aproximou o rosto para ver melhor, e sentiu um cheiro doce que era muito bom. Percebendo que as estrelas então eram macias, morninhas e muito cheirosas, o menino teve mais uma dúvida:  As estrelas eram de comer?
Sem hesitar, o menino colocou a estrela na boca. Ele não gostou, era muito amarga. E ela também não gostou:  Saiu de lá de dentro rapidinho, e chorando do jeito que as estrelas choram, foi correndo se esconder no céu. As outras estrelas ficaram tristes e bravas, e com vergonha da barulheira que elas faziam, e que tinha cara de bronca, o menino correu para se esconder na terra.

    Na noite seguinte, nenhuma estrela apareceu no céu. Os adultos não ligaram, porque eles só gostavam da Lua, que ainda estava lá, grande e muda. Mas o menino ficou muito triste e se sentia culpado. Com sua canequinha nas mãos, ele foi dormir bem mais cedo.
Quando veio a segunda noite, o menino só espiou o céu pela janela de casa, e vendo que elas ainda não estavam lá, nem saiu. Os adultos notaram a falta de algo no céu, mas só porque a Lua, quando surgiu, parecia solitária, mas eles ainda não se preocuparam com isso.

    A terceira noite chegou, trazendo apenas a Lua novamente, e a solidão dela era tanta que até os adultos se entristeceram. Não agüentando mais o peso da culpa, o menino saiu com o banquinho e sua caneca, subiu no banquinho para subir no telhado e começou a chorar. Ele chorou muito, porque se sentia triste e arrependido, e também porque sem as estrelas o menino e a Lua se sentiam sozinhos. O menino queria pedir desculpas para todas as estrelas, principalmente para a que ele curioso, tentou comer. A Lua, que era quieta e mansa, viu o choro do menino, ficou brava, e falou com as estrelas, na língua que só a Lua falava e as pessoas não conseguiam sequer ouvir, porque era suave demais. Ela chamou as estrelas de bobas e lhes disse que era muito errado fugir e magoar um menino tão pequeno que nunca quis fazer mal. Mandou que todas aparecessem e que fizessem o menino se sentir bem de novo.

    Uma a uma, as estrelas voltaram para o céu. O menino enxugou os seus olhinhos e viu todas elas se mexendo de novo, coisa que o deixou tão feliz que ele chorou de novo, mas de contentamento. Comovida, uma estrelinha, aquela mesma que ele botara na boca, desceu de fininho do céu, disse palavras doces que ele não entendeu, alisou suas bochechinhas para fazê-lo parar de chorar, e por fim, derramou em sua canequinha um pouco de seu leite. O leite das estrelas foi a coisa mais gostosa que o menino já havia tomado, porque era docinho como o delas, morninho como o seu brilho. E ainda tinha um toque especial, que fazia dele o melhor leite do mundo: Depois de tomá-lo, o menino passou a entender a língua das estrelas, e elas a dele!

    Em todas as noites que vieram depois desta, o menino subia no telhado para ver e conversar com as estrelas. Elas tinham uma voz bonita, e suas palavras eram sempre graciosas quando elas lhe contavam as suas histórias. Ele descobriu suas brincadeiras favoritas e riu com elas, alegrando a Lua, que era na verdade a mãe de todas elas. No final de cada noite, algumas estrelas se aproximavam de sua canequinha e davam ao menino o seu leite de estrelas.


Ufa, o que acharam? Perdoem-me se eu não sou um Neil Gaiman da vida e não tenho criatividade o suficente para escrever algo da linha de Stardust, mas talvez ele dê pro gasto, não?
De qualquer forma, beijos a todos e um bom Dia dos Pais!

3 comentários:

  1. *-* Own cuti cuti


    Você escreve bem, pruuu






    Amei =*

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  2. Será que você acredita se eu disser que quase chorei?
    Sou uma manteiga, falo mesmo.
    E pare de besteira, Bagy tem razão. Você escreve bem ;).
    Sem contar que não entendo de onde você (e ela também) tiram idéias tão loucas!

    Se não for incômodo, frequentarei o blog também. ;*

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  3. Muito doce... Aquilo de os adultos não perceberem a falta das estrelas e a língua suave da Lua foi genial. Parabéns, Luli!

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Obrigada pelo seu comentário!