sábado, 25 de setembro de 2010

Balada Lupina

Bon Soir, mes amis.
Bem tenho tido um tempo complicado nos estudos e umas batalhas internas homéricas contra uma ou outra idéia (faz parte do meu processo criativo essa luta interna entre meu lado criativo, mas que cria personagens idiotas, e meu lado racional, que cria enredos sem sal)

Mas enfim, depois de um longo e tenebroso inverno, eis que estou de volta e, combinando com a Lulita, postando um conto mais dark e sombrio.
Só que meu conto é meio viajado demais. Quer dizer, uma psicopata que se apaixona? Acho que andei cheirando uma meinha ultimamente.
Foi feito inspirado em uma personagem minha, que eu cheguei a começar a escrever a história dela mesmo, só que:
1) ficou MUITO grande e por isso não daria para publicar aqui (estou bem ciente que 99,99% da popularidade do Castelinho se deve a Lulita, então não faria sentido por uma coisa grande que ninguém iria ler)
e 2) Eu mudei a história dela quando tava quase acabando a história. Sério, eu PRECISAVA mudar a história dela ou não ficaria em paz comigo mesma (apesar de assassina serial, ela é da família de personagens queridas).
Esse conto aqui é inspirado na história dela. Comecei a fazer assim que criei esse poema (de mesmo título e tão fumado quando o conto) em uma noite de lua cheia e de TPM. Tava com a tal personagem ainda na cabeça.
Falando nela, não é exatamente ela acabou quem nem é a assassina (a minha original assassina não se apaixona desse jeito). Se alguém algum dia quiser (o que eu duvido) eu passo uma palhinha da história da original.
Mas enfim, vamos ao poema e ao conto. Garanto que, apesar de estar meio gótico demais, é uma leitura razoável.
Ao poema...

Balada Lupina

Quem me chama? És tu Lua?
Oh Diva dos monstros noturnos!
Saudades tenho desta canção tua.
Mas só lhe posso dar este lamento soturno
E não meus uivos de outrora.
Eis que tenho uma alma agora.

Brilha pálida e mórbida, oh! Diva!
Clamando morte, sangue e pecado.
Fazia-me livre, forte e viva
Para louvar-te com tudo que há de errado
Naquele meu doce tempo de selvageria
Quando só a tua escuridão ouvia.

Já não posso seguir teu canto.
O Sol enfeitiçou-me com seu amor.
E agora sinto!... Sinto e sinto tanto!...
Minh'alma não pode atender teu clamor,
Pois ela ama à luz, ao correto,
Ao anjo que lhe dá amor e afeto.

Mas... Ai de mim!... Que saudades!...
Leva contigo meu espírito lupino
Para tua dança de insanidades,
Teus delírios atrozes e sangrentos hinos.
Deixe-o vagar contigo um pouco
E rir seu uivo insano e rouco.

Leva-o como consolo, pois devo ficar.
Agora tenho saudades, mas também alma
E os braços de um anjo me são lar.
Serafim este de amor e sublime calma.
Então Adeus! Oh, Diva da Escuridão!
Leva contigo de mim apenas esta última lupina canção.

-
...e ao conto.

-
Balada Lupina

Cantava a Lua tal qual um sino suave de prata.
Seres normais não ouviam, mas monstros como ela sim. Era como um doce aroma para um faminto: irresistível.
Ela, porém, se negava aos prazeres que a música prometia.
Não lhe era mais certo uivar para a Lua seu uivo de sangue.
Tinha se renovado, se regenerado.
Mas isso não a impedia de sentar-se a janela e ouvir a canção que cantava a Lua cheia, convocando todos os monstros e demônios que vivem dentro das pessoas para mais uma balada de pecados noturnos, e lembrar-se de seu passado nefasto.
Há alguns tempo (um ano e meio para ser mais exato), antes de sua regeneração, fora uma assassina notória.
Não houvera, durante todo o reinado da rainha Vitória, assassina tão cruel como ela na Inglaterra. Matou ao todo, 99 pessoas em oito anos de maneira mais do que sádica, pois não lhe bastava matar. Gostava de sentir-se uma deusa, e para isso usava os gritos dos outros como oração, seu sangue como hóstia, seus corpos como holocausto e seus olhos como fiéis. Quebrava-os o suficiente para sentir a sensação de divindade e então, com um suspiro de contentamento, mandava suas vítimas conversarem diretamente com o criador.
Remorsos? Nunca sentiu.
Culpa? Idem.
Não costumava ter alma para o sentir e mesmo agora não tinha o suficiente para isso.
Era um monstro orgulhoso, sádico e cruel, alimentado por sangue e pela canção da Diva Lua.
Nunca fora pega, nem mesmo foi tida como suspeita de nada. Sempre fora cruelmente genial. E por oito anos aterrorizou Londres com o pseudônimo de "O Demônio da Lua Cheia".
O que a fez mudar de repente?
Perguntou-se, suspirando junto a janela à luz lunar, olhando seu reflexo no vidro.
Seus olhos ainda eram negros e incandescentes como as brasas do inferno e seu sorriso ainda possuía seu escárnio e crueldade de outrora. Ainda era a mesma loba em uma bela pele de cordeiro que matou 99 ovelhas.
Suspirou de novo.
Sabia a resposta.
Os olhos e o sorriso continuavam os mesmos, pois ainda era um monstro orgulhoso de o ser, e talvez o fosse até o fim da vida. Mas era agora um monstro regenerado.
O Cupido com sua flecha amaciaram seu espírito matador, e o Amor fazia dela deusa sem precisar de sangue.
O que a fizera mudar? Apaixonar-se por aquele que deveria ter sido sua vítima número 100.
Ele era de berço nobre assim como ela, porém ela era um demônio, ele um anjo. Um serafim astuto que descobrira quem ela era de verdade e o que ela fazia, e mesmo assim apaixonou-se perdidamente por ela.
Apaixonou-se à primeira vista em um baile, não ficando satisfeito enquanto não tivesse beijado-lhe a mão pelo pelo menos. Os olhos negros dela o fascinavam na mesma medida que assustava.
Ela o encarou com o olhar gélido que dedicava a qualquer pretendente, mas ele não desistiu. Queria chama a atenção dela a qualquer custo. Em seu ímpeto, chegou a fazer papel de ridículo mais de uma vez.
A surpresa do que ela era de verdade veio em um domingo, quando os dois deveriam estar na missa, mas ambos sairam para a prática de seus hobbies. Ele fora ver uma briga de galos (onde perdeu 20 libras esterlinas) e ela foi retalhar um pobre inocente.
Ele a viu andando sorrindo saindo de uma casa abandonada no subúrbio de Londres.
Primeiro acreditou que fosse um algum namorado e se enfureceu. Entrou na casa de supetão para descobrir quem era seu concorrente, deparando-se não com um ninho de amor mas com uma cena que até mesmo agora lhe causava náuseas.
Entregou o corpo para a polícia sem dizer que a vira. Não queria que seu amor fosse presa. Mas assim que possível se encontou com ela, exigindo explicações. Ela não negou nada.
O desafiou a entrega-la.
Ele (por amor ou por burrice, vai ao gosto do freguês) escolheu que iria recuprera-la.
Durante vários meses (enquanto ele não era um alvo) a visitara e a dissuadira a seguir o caminho do correto. Dizia que queria salvar a alma dela e ela ria e dizia não ter uma. Ela jurou ele de morte quando ele começou a lhe ser um estorvo e mesmo assim ele continuou, mesmo com medo da morte (delata-la jamais fora uma opção, pois ele era idiotamente apaixonado por ela).
Às vezes ela ainda ria dele por isso. De duas, uma: ou era completamente insano, ou nascera no século errado (tinha vocação para cavaleiro cruzado).
O passo final para os dois foi a noite em que ele deveria ser mais um corpo.
Ela visitou-o a noite, com a canção da Lua cheia clamando pelo sangue dele. Ele sabia o que ela fora fazer e não lutou. Ficou de costas, esperando seu destino, faltando-lhe coragem para encarar o amor de sua vida. Uma atitude insana e reprovável de alguém que não pensa direito (um apaixonado) que com qualquer outro monstro não surtiria efeito.
Mas seduziu a fera em questão.
Amava-a o suficiente para por a vida nas mãos dela sem hesitar.
E com isso ela percebeu o que estivera ignorando em si mesma durante todos aqueles meses:
Ela apaixonara-se por ele.
Sua irritação pode até ter começado como irritação mesmo, mas depois foi uma estranha máscara para seu estranho amor.
Ela não o feriu: o abraçou e, indecentemente para a época, beijou seus lábios.
O que tinha mudado nela era que tudo nele fazia as ordens da Lua um ruído baixo, quase imperceptíveis, e que os olhos multicores dele já a endeusavam sem ser necessário derramar sangue.
Noivaram o tempo mínimo que mandava a torta decência vitoriana e casaram-se em uma tarde chuvosa de primavera.
Teve de abandonar suas caçadas por exigência do marido, mas realmente não se importou. Manteve seus 99 "troféus" (um olho de cada uma de suas vítimas) apesar dele torcer o nariz e apesar de não mais aumentar a coleção.
O amor de seu anjo era tão grande que a preenchera. Agora tinha alma (apesar de ainda não sentir remorsos).
Mas isso ainda não a impedia de, quando chegava a Lua cheia, suspirar de saudades e vontade de sair à caça mais uma vez.
Olhava a Londres noturna distraída até ouvir passos suaves entrando na sala.
Virou-se com um movimento fluido e encarou seu marido que entrava na sala sonolento e bocejando. Os olhos, um azul outro verde, enevoados de sono.
- Acordada tão tarde, querida?
Ela sorriu e esticou a mão. Ele prontamente pegou-a e os dois se encararam a luz da lua de mãos dadas.
- É lua cheia, querido.
Ele assentiu. Sabia do fascínio da esposa por aquela fase lunar.
Ficaram em silêncio por alguns instantes. Olhos multicores focados nos olhos negros. Os primeiros eram janelas abertas para a alma dele, os segundos eram insondáveis.
- No que está pensando? - ele perguntou sério.
Ela suspirou.
- No passado... - brincou com os dedos grandes dele entre os seus - A Lua está me chamando...
Ele desviou os olhos, desconfortável.
- E o que vai fazer?
Ela riu e, com as duas mãos, puxou o rosto dele para encará-lo de novo. Olhos multicores estavam tão sérios! Até parecia que nunca haviam tido conversas como aquela antes.
Beijou os lábios deles de modo indecente à época. Os braços dele instintivamente se enrolaram na cintura dela.
- Sabe o que vou fazer. - retrucou ainda abraçada nele e sorrindo divertida - Prometi que não iria mais sair para isso, e costumo manter minhas promessas.
Ele assentiu sorrindo satisfeito e a beijou de novo.
- Vamos dormir então? Já é muito tarde.
Foi a vez dela assentir.
De mãos dadas seguiram para o quarto do casal (mais uma indecência para a época).
Ela olhou uma última vez pela janela, suspirou, pensou "Adeus, Diva Lua!" e beijou o marido novamente. Tinha saudades, porém alma e amor. Por isso restava-lhe apenas uivar em suspiros. Mas isso realmente não importava.
Estava feliz
-
Notas sobre o conto:
1)Primeiro o porque dele ser meio que um absurdo: Psicopatas não se apaixonam. Mas resolvi tirar um pouco de licença poética para fazer uma que se apaixonou de um jeito saudável (a original não se apaixonaria assim).
2)Não está explícito o ano, mas deixei uma pista bem sólida. Para quem não entende de história, a rainha Vitória governou a Inglaterra no século XIX (de 1847, creio eu, até 1901). O conto se passa mais ou menos no final do século, entre 1870 e 1880.
3) Curiosidades sobre a sexualidade inglesa período vitoriano e que ajudam a entender as "indecências" do casal: A era vitoriana foi, do meu ponto de vista, uma época meio hipócrita da sociedade inglesa. Porque eles traduziram o Kama Sutra nessa época (Nota: só traduziram a putaria, porque o kama é mais do que só posições sexuais. É um guia completo de namoro. Explica como se aproximar da garota que se gosta, como se comportar com ela, como se comportar com os pais dela... Cara, tem até os momentos certos de dar um chupão nela! E, claro, também tem "como satisfaze-la na cama" que é a parte que todos conhecem, a parte pervertida. Agora, quem disse que os britânicos ligaram pra essa parte que não era putaria?), mas era meio que uma ofensa moral dar um beijo na rua na sua namorada/noiva/esposa. Outro aspécto hipócrita tem haver com as prostitutas. Tipo, haviam MUITAS profissionais dessas em Londres devido a Revolução Industrial (porque não havia empregos para todas as mulheres, e elas precisavam sobreviver, não é?) e que eram MUITO mal vistas pela população. Só que, o mais famoso assassino serial da cidade de Londres no final do século XIX (Jack, o Estripador) matou justamente prostitutas e chocou a nação de um jeito absurdo. Agora, um pouco de coisas bizarras do período, mas sem a hipocrisia: marido e mulher dormiam em quartos separados e, em alguns casos, havia um quarto especial para eles acasalarem, porque sexo entre marido e esposa era unicamente para fins reprodutivos. Quando não tinha esse quarto, o marido visitava a esposa, eles tentavam gerar um herdeiro, e depois findado o ato reprodutivo ele dava boa noite e ia pro quarto dele (nota: isso quando ele queria. A mulher não tinha voz nem nisso). Seria considerado algo vergonhoso e pervertido um marido e uma mulher nobres (e que portanto podem ter um quarto pra cada + um quarto pra reprodução) dormirem no mesmo quarto. Não é a toa que até hoje dizem que os ingleses são reprimidos sexualmente e tem falta de apetite sexual. Depois de quase um século com a tal Vitória no trono é meio óbvio que vai demorar um pouquinho pra eles "sairem do armário" de novo.
4) Por que ela fica com vontade de matar na lua cheia? Não sei dizer. Quer dizer, eu sei dizer o porque eu a fiz assim (escrevi o conto na lua cheia), mas tem um fundo de verdade aí. Sabiam que o índice de homicídios aumenta na lua cheia? Sério, vi isso em alguma pesquisa americana. Não há nenhum fator lógico nisso, só acontece. Pense duas vezes antes de sair para fazer um passeio ao luar de novo xD


Bom, basicamente é isso. Eu ADORARIA comentar qualquer coisa tosca do que está acontecendo em minha vidinha de vestibulanda, mas hoje estou meio que um caquinho, por isso quero só me encolher no recanto mais profundo da net, comer um miojo, tomar um banho e ir para a cama (até porque tenho prova amanhã cedo)
Respondendo só uma coisinha para Aldo nando: Desolè (sorry) mon ami, mas eu só faço revisão dos textos da Lulita. E não estou dizendo isso porque recebi uma carta de ameaça dela hoje de manhã xD
Brinks =D Sorry mesmo, mas somos exclusivas uma da outra(...porque eu sempre acabo fazendo frase de duplo sentido? -q Sem maldade gente). Tanto é que ela me ajudou nesse aqui, tanto me lembrando que eu não podia escrever demais e que eu não podia me animar demais e escrever muito sobre os assassinatos dela, quanto editando o texto para fazer algum sentido xD

Bom, isso é tudo pessoal.
Bonne Nuit e Au revoir.

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