terça-feira, 7 de setembro de 2010

Fitzwilliam, em sua última noite.

Oi ameegas! Demorinha pra atualizar dessa vez, não foi? Pois é, não vou me desculpar não, vou mandar vcs se acostumarem pq eu e vocês sabemos que a coisa aqui é burocrática D: Se serve de consolo, o conto de hoje é longo e feito com muito carinho e dedicação! Sério, ele me deu um trabalhão, porque eu estava meio que experimentando um estilo de narrativa nova, e também quis uma coisa um pouco mais dark (se é que a fadinha saltitante e purpurinada que eu sou sabe fazer algo dark...), sem falar que isso não é um conto isolado: É, na verdade, o prólogo de uma história não definida com 3 personagens principais que eu tenho criados aqui na minha cabecinha. O que vemos nesse conto é, então, uma apresentação de um deles. Ou de dois, se você for mais abrangente. Ou dos dois e uma dica do terceiro, se você for esperto, e eu sei que vocês são! Então, vamos ao conto!


Fitzwilliam, em sua última noite  

   Jean e Fitzwilliam nunca conseguiram fazer nada em conjunto. Eles eram dois vampiros que, sempre que se encontravam através dos séculos, sabiam apenas perseguirem-se e tentarem destruir um ao outro – e tudo o que entrasse no caminho. Fitzwilliam não encontrava uma única memória onde ele e Jean tivessem se encontrado sem que um desastre ocorresse logo em seguida – o que era algo significativo, uma vez que a única coisa a que Fitzwilliam tinha acesso eram suas memórias – algumas prejudicadas, outras nítidas, e algumas das quais ele lembrava apenas de partes. Como, por exemplo, a lembrança de sua última noite, em 1659 na cidade de Salvador.

   Fitzwillian não saberia de maneira alguma dizer o que acontecera no início daquela noite. Ele poderia supor que aquela noite havia sido como todas as outras em que ele acordou disposto a encontrar Jean – Jean, que o seguira até o Brasil. Em sua cabeça, tudo começava em uma casa branca, pertencente a uma família de senhores de engenho. Ah, era uma fazenda grande, com uma extensa plantação de cana-de-açúcar, e as três casas onde o caldo das plantas era extraído, cozido e o seu produto era refinado. Fitzwilliam achava os canaviais desinteressantes e não eram agradáveis de olhar. Havia uma horta e animais de fazenda, tais como galinhas e porcos, que Fitzwilliam só conseguia localizar pelo cheiro – era tarde da noite, todos estavam recolhidos. E a senzala, a casa dos negros feita de madeira e barro a qual Fitzwilliam não dedicou a menor atenção, porque a casa grande era muito mais interessante. Branca, alta, cheia de janelas e com graciosas varandas de madeiras, deixando passar a luz e o som provenientes da casa. Fitzwilliam deduziu que ali estava ocorrendo uma festa, embora com o tempo sua certeza tenha diminuído. Ele se surpreendia até, em ver como gravou tantos detalhes da casa sem se dar conta. Tinha muita gente lá, disso ele se lembra.

   E Jean. Jean estava lá.

   A maneira que Fitzwilliam usara para invadir da casa não lhe era muito clara, poderia ter sido pelo telhado ou pelas janelas de um andar mais baixo. Afinal, quantas vezes Fitzwilliam já passou por uma situação dessas? Entrar clandestinamente em uma residência para encontrar Jean misturado entre os mortais, seduzindo-os em suas próprias reuniões com suas histórias e jeito manso de falar, até a chegada do amanhecer, quando ele fugiria, ocasionalmente com os lábios sujos de sangue. Jean sempre amou passar as noites assim, porque ele era um eterno boêmio e porque sabia que era esse o melhor lugar para se esconder de Fitzwilliam, que preferia ser sorrateiro, caçando como uma sombra.

   Jean e Fitzwilliam sempre tiveram nojo dos hábitos um do outro.

   O que aconteceu dentro da casa? Fitzwilliam não tem mais condições de dizer. Os cenários e os encontros com Jean se misturavam. Eram escritórios vazios que Fitzwilliam atravessava, ou quartos de senhoritas com muitos vestidos. Houveram vezes em que Jean foi ao seu encontro nesses cômodos vazios, e aquelas em que Fitzwilliam fora obrigado a praticamente seqüestrá-lo no salão de festa. Muitas reações de humanos, suspeitas, desmaios, fugas e mortos.  E muitas reações de Jean. Hora ele sorria e lhe cumprimentava com humor afetado. Mas Jean também tinha raiva, brigava para continuar com os mortais – ah, como Fitzwilliam odiava esses episódios! -, tentava fugir. Era previsível em apenas um aspecto:

   Ele nunca foi pego de surpresa. Claro, Jean e Fitzwilliam sentiam a presença um do outro a milhas de distância.

   Como Jean reagiu naquela noite? Com violência. Fitzwilliam poderia não lembrar como exatamente foi o encontro, mas houve raiva, luta e morte. Sangue molhando o chão era comum nos cenários de suas histórias, e os cadáveres pareciam todos iguais. Eram apenas mortais, afinal de contas. Mas naquela noite em especial Fitzwilliam aprendeu a distinguir os negros e os brancos, apenas para notar que apenas Jean matara negros naquela noite. 

   Quando se lembra disso, Fitzwilliam sente raiva, porque sabe o que virá depois - Ele vive dentro das próprias memórias, sabe o final de todas as suas histórias. E esse ódio confunde ainda mais a sua mente, a tal ponto que Fitzwilliam não sabe mais dizer o levou ele e Jean a brigarem de forma tão bruta logo naquela noite, na casa branca perto da senzala. Provocações e desentendimentos passam pela sua cabeça, mas nenhum deles parece se encaixar, aparentando serem muito pouco para o efeito que causaram – ou Fitzwilliam estaria supervalorizando aquele evento? Certamente que não. Mas os vampiros fizeram um escândalo, gritaram demais, atiraram objetos um no outro. Causaram tanta destruição na casa até que houve um momento em que a mão de Jean cobriu o rosto de Fitzwilliam e este foi atirado pela janela. Fora da casa dos brancos, ele se levantou e continuou a atacar Jean, e assim eles foram se ferindo até que se chocaram contra a casa dos negros.

   Se tivesse prestado atenção na senzala enquanto estava do lado de fora, Fitzwilliam teria feito de tudo para não ter que lembrar-se de cada detalhe de como ela era por dentro.

   Foram as costas de Jean sendo pressionadas contra as grades de uma das janelas até quebrar que eles entraram no alojamento dos escravos. O lugar era um grande galpão com chão de terra batida e paredes de barros, sem divisórias.  Àquela altura, o alarde feito na casa grande já havia causado preocupação entre os escravos. Eram mais de cem, homens separados das mulheres, todos vestidos com roupas sujas e rasgadas, alguns acorrentados pelos pés. Os que estavam livres se afastaram o máximo que puderam, ou se reuniram aos presos. Nem Jean nem Fitzwilliam se importaram com eles a princípio. Esse era o grande erro deles, sempre. Socavam-se e rolavam pelo chão e jogavam um no outro qualquer objeto que aparecesse. E assim foram destruindo a senzala e causando desespero nos humanos ali até que caíram por cima de um garoto jovem, que não deveria ter ainda quinze anos, e se encontrava acorrentado. Nisso, outro escravo maior e mais forte, mesmo que também preso pelas correntes, foi corajoso o suficiente para tentar interferir entre ele e Jean para salvar o escravo jovem.  Deveriam ter sido parte de uma família, Fitzwilliam sempre pensa. Então, o escravo forte morreu.

   Depois de rever a cena em sua mente tantas vezes, Fitzwilliam sabia dizer exatamente o que ocorrera e o que deveria ter ocorrido. Foi ele quem caiu em cima do escravo novo, e por isso foi ele que o escravo forte quis tirar do caminho. Ele afastou o mais novo com o braço e colocou-se na sua frente enquanto com o outro segurava Fitzwilliam pela gola da roupa arruinada e tentava empurrá-lo. Ao mesmo tempo, Jean se aproximava deles com o braço estendido para apertar a sua garganta. Se tivesse um segundo a mais, ou se estivesse um pouco menos conturbado, ou se soubesse o que estaria para acontecer, Fitzwilliam teria jogado o negro para longe dali. Mas no momento, ele só viu a garganta do escravo sendo rasgada pela mão de Jean. Ele ficou agonizando enquanto o sangue descia, mas morreria logo. Jean que o matou.

   Ainda teria dado tempo de evitar um desastre maior se ele tivesse fugido dali, mas Fitzwilliam estava agitado demais, envolvido demais na luta pra se importar com um escravo no momento, e tudo que ele fez foi afastar o corpo e deixá-lo cair ao lado dos dois.

   Foi quando ela viu e se fez ser vista. O som do grito que ela deu já preenchia todo o local quando ela saiu do meio das mulheres presas no outro extremo da senzala, arrastando os pés o mais rápido que as correntes permitiam e se jogou de braços abertos sobre o homem que sofria, afundando o rosto em seu peito, trazendo-o para seu colo, deixando que o sangue sujasse os trapos brancos que usava e o lenço que usava para enrolar a cabeça se soltasse. A dor que ela exprimira era intensa o suficiente para, por um momento, cegar a todos sobre qualquer outra coisa. Ninguém pareceu notar que ela parecia não notar o menino jovem tentando arrastá-la dali, e não se importava com a presença de dois vampiros tão próximos. E Jean e Fitzwilliam por um momento também pararam, por um momento sem saber o que pensar, sem serem capazes de notar que os restos das correntes que ainda estavam presos em seus pés eram indício de que havia alguma coisa de muito errada sobre aquela mulher.

   Até que ele, finalmente morreu, e ela ergueu o rosto e olhou os dois. A dor presente no ar se converteu em ódio. A boca dela estava cerrada, mas Fitzwilliam tinha certeza de o grito contínuo que ele ainda ouvia não era fruto de um engano de sua mente um pouco desgastada pelo tempo. Não, nesse ponto, as suas memórias eram exatas, por mais desagradáveis que fossem. O som se tornou insuportável e ela, ensangüentada e cheia de lágrimas, parecia esquisita demais para ser tocada, então Fitzwilliam e Jean ao mesmo tempo decidiram sair de perto. Ah, qualquer idéia que fosse compartilhada por eles dois é destinada a dar errado, ele já não devia ter aprendido?

   Jean foi o primeiro a sofrer. Ela o agarrou pelo tornozelo e o puxou com uma força fora dos padrões humanos, e, como em algum momento durante o assassinato do escravo Jean pôs a mão sobre o seu ombro, em sua queda Fitzwilliam também foi deixado de joelhos. Ele tentou se afastar mesmo assim – puxando Jean com ele, como sempre fazia em situações assim, mas de repente se sentiu puxado para longe na mesma hora em que os gritos de Jean se juntaram ao barulho insuportável que a voz dela produzia na senzala. Alguns segundos foram necessários para que Fitzwilliam se desse conta de que era o garoto, o jovem que fora protegido, que tentava tirá-lo de perto. O menino devia estar num estado de desespero lastimável, ou saber de alguma coisa muito ruim sobre ela, para tentar ajudar uma criatura como ele numa hora dessas. Fitzwilliam logo descobriu que a segunda opção era a verdadeira.  Ele se desvencilhou do garoto, e olhando para seu rosto percebeu que o menino tentava falar com ele, mas Fitzwilliam não ouvia nada. Ele olhou para trás, e viu que a mulher havia dado um jeito de subir em cima de Jean, com as correntes agora seguras em suas mãos. Jean, deitado com o peito para baixo, se arrastava e se debatia sem conseguir nada. Os lábios de ambos se moviam indicando que eles estavam falando várias palavras, mas Fitzwilliam só conseguia ouvir os eternos gritos de dor, ódio e medo. Fitzwilliam então aceitou a idéia de que eles estavam na verdade dentro de sua cabeça.

   Como se seus pensamentos chamassem sua atenção, os olhos da negra se direcionaram aos seus. Humanos normais não tinham olhos tão escuros, sem brilho. E também não o tinham nenhum vampiro que Fitzwilliam soubesse da existência. A pele dela, ele viu enquanto ela soltava Jean e se arrastava em sua direção, se tornava mais escura do que a de qualquer outra criatura que ele conhecera. O garoto, inexplicavelmente bondoso, imediatamente o soltou e tentando ao máximo se afastar dela, foi socorrer Jean, atordoado no chão. Todos na senzala se encolhiam o mais longe dela possível, então Fitzwilliam achou que já tinha visto o suficiente para justificar uma fuga. Foi o que ele tentou. Levantou-se e tentou correr, mas seus pés pareceram pesados, ou até mesmo colados ao chão, e tudo que ele conseguiu foi cambalear sem direção. Também, o ato de ficar de pé misturou-se ao incômodo das vozes e o deixou tonto. Todas as sombras do local pareceram distorcidas, maiores, mais profundas, como se cavassem buracos no chão, e Fitzwilliam não sabia se era por conta da súbita tontura ou por uma obra dela. Mais tarde, concluiu que era uma mistura dos dois. Mesmo assim ele deu tudo de si para tentar sair dali.

   As janelas da senzala mostravam um ambiente externo quieto, onde a única movimentação noturna parecia ser causada pelo vento sobre as folhas das plantas. A senzala era um lugar à parte da qual o caos não saía. Fitzwilliam pensou que, se chegasse do lado de fora, encontraria paz, e talvez tivesse tempo de se restabelecer e voltar para tirar Jean dali. Ele ainda tem dúvidas, enquanto lembra, se ela não teria conseguido transformar o mundo inteiro no inferno, se quisesse, mas não tem muito no que se basear, uma vez que não chegou a sair da senzala. Ele sentiu as mãos da mulher agarrarem suas pernas, em um aperto que doía muito, e sentiu que ela o puxava e que ele não conseguia pôr resistência, por mais tentasse. Apesar de àquela altura já saber que não adiantaria nada. Ela o levou ao chão da mesma forma que fez com Jean (onde estava Jean? ), e Fitzwilliam sentiu, quando suas costas bateram contra o chão, que a partir daquele momento qualquer coisa doeria mais do que muito do que ele já havia sentido como vampiro. Como se ela tivesse acesso aos seus pensamentos novamente e quisesse lhe mostrar o quão fragilizado estava, porque aquilo só poderia ser feito dela, o ar começou a ficar quente, a temperatura de tudo começou a subir demais. Qualquer parte do corpo dela que entrava em contato com o seu ardia, e a negra subia em cima dele, colocando uma perna em cada lado de seu corpo, prendendo os seus braços juntos, permitindo a Fitzwilliam apenas o ato de mover as pernas, chutando o ar desesperadamente. Logo até suas pernas ficaram pesadas, como se seus pés grudassem na terra.

   A bruxa, demônio ou o que quer que fosse, falou muito, tão pesada em cima dele, e quando ela olhou em seus olhos Fitzwilliam pôde ouvir as palavras delas, mesmo que não as entendessem. Elas pareciam horríveis, combinadas com o barulho que ainda agoniava seus ouvidos. Ela pegou a corrente e amarrou em seu pescoço, e ele sentiu o metal grudando em sua pele. Com as mãos livres, ela pés uma em seu peito, empurrando-o, e Fitzwilliam sentiu que seu corpo realmente parecia afundar na terra, a pressão dela em cima dele suavizando à medida em que ele sentia que descia. Ela fez gestos amplos e rápidos com o outro braço, erguendo-o acima da cabeça, e depois pôs esta mão no seu rosto, apertando a palma contra seu nariz, os dedos passando por cima de seus olhos o impossibilitando de ver o rosto dela, as lágrimas que ela voltava a derramar.

   O som já não era mais tão alto. Fitzwilliam agora ouvia tudo como se estivesse debaixo d’água. Sentia a terra cobrindo seu corpo à medida que era empurrado para baixo. Só havia ela na sua frente, até que areia entrou em seus olhos, e ele deixou de ver as sombras, a dor, a mulher. Logo, Fitzwilliam também deixou de ouvir. O nada o envolve, mas não dura muito: Ele começa a ver um ponto amarelo, e Fitzwilliam se lembra de ter pensado que aquilo era a morte.  Mas era o sol. O pôr do sol visto de um barco, uma das últimas visões de Fitzwilliam humano. Ele olharia para o lado de encontraria Jean – o que aconteceu com Jean no final?

   E todas as memórias voltam a dançar diante dele, uma série de noites, sangue, lugares, e Jean.

   Ah, Jean e Fitzwilliam nunca conseguiram fazer nada em conjunto.

Gostaria que todo mundo chegasse aqui e agradecesse à Zoe porque ela foi a dedicada revisora do texto. Ele não seria tão legal sem ela <3
Para quem não sabe, Fitzwilliam é o nome do Mr. Darcy, de Orgulho e Preconceito, é um nomezinho estranho, mas não mudarei nunca. NUNCA! ;-; Um dia postarei a continuação disso, o verdadeiro começo da história! Até lá, me digam o que acharam desse!
Até!

2 comentários:

  1. ÇOU BURRA, QUEM É A TERCEIRA PERSONAGEM?!

    Sim, está muito bom, quero mais, now.

    E, realmente, você não tem preguiça de escrever "Fitzwillian"? Meu Deus, dava preguiça de ler! Depois da quinta vez, meu cérebro só reconhecia "Fitznhemnhem" HUAHAUAHUAUH... (brincadeira, eu li com muito gosto! ;P)

    E muito obrigada pela revisão do texto, Zoe! (e muito prazer, acho que sou uma estranha pra você :D)

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  2. Tambem não sei quem é a terceira personagem. Sí posso dizer que ela é muito foda!

    Vai continuar a história? Continue sim, essa parte aí ficou muito boa, hohohohohoh. Mesmo.

    Ps: A Zoe faz revisões de outros textos? =D

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Obrigada pelo seu comentário!